Troca-troca de verão: em hits de 2015, temas se alternam entre estilos

 

Nos carnavais passados, os papéis estavam bem divididos entre estilos musicais brasileiros populares: funk de SP contava dinheiro, axé celebrava o amor e o sertanejo caía na balada. Entre "plaquês de 100", "amor maravilhoso" e "tchê tchererê", era fácil adivinhar o ritmo correspondente a cada letra. Porém, o papo mudou. Os hits de 2015 mostram um troca-troca entre os discursos em alta nos três gêneros.
Funk ostentação, sertanejo pegação e axé romântico são tão 2013... Agora, o que pega é axé ostentação, funk pegação e sertanejo romântico. Na Bahia, o Babado Novo exige R$ 15 mil por mês para manter seus luxos. Em São Paulo, MC Livinho imagina um pervertido "diálogo dos lábios com o pipi". Em Goiás, Jorge e Mateus rimam coração com razão.


AXÉ

Os últimos hits do carnaval da Bahia falavam de "amor maravilhoso" ("Circulou", com Banda Eva), "mãozinha para o ar" ("Ziriguidum", com Filhos de Jorge) e "amor ou cumplicidade" ("Lepo lepo", com Psirico, quase um manifesto contra a ostentação). Duas fortes candidatas locais a sucesso de 2015, no entanto, se rendem ao luxo. Ambas estão no tradicional CD "Axé Bahia" de 2015 (Universal Music).

Mari Antunes, do Babado Novo, interpreta uma namorada exigente: "Você quer botar banca, o preço da fama / Quer comer filé, então não reclama", canta em "15 mil por mês". A composição é de Bruno Caliman, autor de "Camaro amarelo" e da faixa mais tocada nas rádios do Brasil no ano passado, "Domingo de manhã".

Neto LX deve ser a revelação baiana deste carnaval, sem economizar luxo nem calorias. "Gordinho gostoso" se destaca no álbum "Axé Bahia". Ele define seu estilo como "arrocha ostentação". "Sou gordinho, sou gostoso, sou o rei do paredão / Boto um boné da John John, copo de whisky na mão", canta.

FUNK SP

O funk de São Paulo virou fenômeno em 2012 com letras que exaltavam o luxo. Até o ano passado, a cena paulista era sinônimo de ostentação. Uma novíssima geração de MCs está mudando isso. Pedrinho, Livinho e Brinquedo são alguns nomes que somam milhões de clique no YouTube sem contar dinheiro. As letras são muito mais pornográficas e bem humoradas que a onda anterior.

 

"Mulher Kama Sutra", do MC Livinho, 19 anos, é um dos maiores hits. O verso "ela trava, segura, que delícia, que gostosura" é inocente perto de outros do autor. "Meu pipi começou a chorar / Disse que com teus lábios adorou dialogar", de "Na ponta do pé", fica no limite das letras publicáveis. O MC Pedrinho, outro ídolo novo, fez uma versão "light" de "Dom dom dom". "Novinha se prepara e vai descendo até o chão" substitui outro verso bem mais explícito. O cantor de 12 anos diz que é tudo brincadeira e que ele nunca beijou na boca.

De quebra, o movimento atual dá espaço para mulheres falarem de sexo sem censura. A MC Tati Zaqui, primeiro nome feminino de destaque na cena, acredita que "Parara tibum" pode ser um dos sucessos do carnaval 2015.

SERTANEJO

Onomatopeia sexual, bebedeira na balada e carrões para pegar a mulherada não colam mais no sertanejo. A paixão fugaz dá lugar a juras de amor eterno. As músicas são mais tranquilas e menos "quentes", mas isso não significa menos sucesso no verão.

Desde o começo do ano, a faixa brasileira mais vendida no iTunes é "Nocaute", de Jorge & Mateus. "Ainda sou o mesmo bobo apaixonado /Se eu estou errado não quero nem saber." O discurso é o mesmo dos anos 90, e lembra o "apaixonado de alma transparente" de "É o amor".

Nas rádios, a música mais tocada na semana de 11 a 17 de janeiro no Brasil, segundo a Crowley, foi "Cuida bem dela", de Henrique & Juliano. Esta tem ainda mais a cara do sertanejo com dor de cotovelo de duas décadas atrás. "Cuida bem dela / Ela gosta que reparem no cabelo dela / Foi por um triz / Mas fui incapaz de ser o que ela sempre quis."

 http://g1.globo.com/musica/noticia/2015/01/troca-troca-de-verao-em-hits-de-2015-temas-se-alternam-entre-estilos.html