O inglês
Andy Green (foto menor) não parece ser o homem mais rápido do mundo. Ele é alto e pesado, a ponto de não caber em um carro
de Fórmula 1, e seu rosto, com bochechas vermelhas e grandes olhos
azuis, lembra mais o de um professor de história do que o do único homem
do planeta que superou a velocidade do som (1.193 km/h a 0°C) ao
volante de um carro.
Embora pareça ser uma pessoa normal, Green é uma espécie rara de
superpiloto, treinado em aviões a jato de combate e carros de corrida.
Além disso, ele também é formado em matemática na Universidade de
Oxford, na Inglaterra, por isso é bom com números e tem raciocínio
rápido para lidar com diversas situações em altíssima velocidade.
“Pilotei jatos de combate por mais de 30 anos e isso foi fundamental
para minha preparação”, contou o piloto, que é tenente-coronel da RAF
(Força Aérea do Reino Unido), em entrevista ao
iG.
Andy Green veio ao Brasil para promover sua próxima tentativa de bater o recorde mundial de velocidade com um automóvel, no qual tentará superar a marca de 1.609 km/h com o projeto
Bloodhound SSC, um carro que mais se parece com uma locomotiva com asas.
No recorde atual, estabelecido em 1997, Green alcançou 1.227,93 km/h a bordo do impressionante
Thrust SSC, um carro
equipado com duas turbinas do caça F-4 Phantom com 110 mil cavalos de
potência. Já o Bloodhound usa apenas uma turbina, a do caça Eurofighter,
mas conta com o auxílio de um motor V12 convencional e dois foguetes.
“Esse carro é tão potente quanto 180 carros de Fórmula 1 em força
total”, explica Green. Ao todo, o carro gera 135 mil cavalos de
potência!
“É um carro
muito complexo de ser construído, pois ele tem de suportar enormes
forças”, explica o piloto britânico. O Bloodhound é construído com
alumínio e fibra de carbono e, segundo seus idealizadores, possui o
“chassi mais resistente do mundo” já usado em algum tipo de automóvel.
“Se não for forte o suficiente o carro quebraria ao meio quando
atingisse velocidades mais elevadas”, conta Green. Quando fala em
“velocidade elevada”, Green se refere a marcas superiores a 700 km/h...
Para acomodar uma turbina de avião, foguetes, um motor de carro e
muito combustível, o protótipo inevitavelmente ficou enorme. Ele mede
13 metros de comprimento e pesa 7,5 toneladas. Outra parte curiosa são
as rodas, de alumínio maciço, sem pneus. “É impossível usar pneus em
carros desse tipo. Eles derreteriam em pouco tempo”, explica.
“Os comandos do carro são até simples. O pedal esquerdo serve para
acelerar o motor V12 e a turbina. O volante, uma espécie de manche de
avião, quase não gira e possui os gatilhos de acionamento dos foguetes e
dos para-quedas, que servem para frear o veículo”, conta Green. “Quando
se guia um carro desses tudo é extremo: o barulho, o balanço da
carroceria, a força G de aceleração, o calor... Em meio a isso tudo é
preciso estar muito focado para manter o carro estável e na linha por
onde corre. Qualquer alteração na estabilidade pode ser um problema e os
freios só funcionam com o carro abaixo de 200 km/h”, completa.
“Se uma pessoa piscar os olhos durante a passagem do carro
por um campo de futebol ela não vai ver nada”, exemplifica o piloto
inglês. Mas se essa mesma pessoa ouvir de perto o barulho do carro na
velocidade do som ela certamente perderá a audição com o “Sonic Boom”,
nome dado ao deslocamento de ar causado por objetos supersônicos.
Ao ser questionado se tem medo de dirigir algo tão rápido, Green
apelou ao humor britânico: “Minha maior preocupação são as 30 câmeras de
vídeo espalhadas pelo carro e o milhares de emails que preciso responder. Quando entrar no carro para tentar o recorde não vou ter tempo para ter medo".
Mania por recordes de velocidade
Desde que o homem inventou o carro
sempre houve o anseio por atingir velocidades mais altas, nunca antes
atingidas. O quadro de recordes de velocidade com automóveis foi de 63
km/h a 1.227 km/h em 115 anos e eles foram alcançados por todo tipo de
veículo. O primeiro recorde foi alcançado por um carro elétrico em 1898,
15 anos após a invenção do automóvel,
ao passo que marca de 195 km/h foi alcançada em 1906 por um carro
movido a vapor. Nos 60 anos seguintes os recordes foram todos dominados
por supercarros com motores a gasolina, que chegariam até 649 km/h
(recorde do Bluebird CN7, registrado em 1960). Mais rápido do que isso,
só com ajuda do jato.
E no início da década de 1960 motores a jato eram encontrados aos
montes em ferros-velhos nos Estados Unidos. “Foi nessa década que a
Força Aérea dos Estados Unidos começou a desativar seus primeiros aviões
a jato, que haviam sido fabricados no final dos anos 1940 e início da
década de 1950. Nessa época foram criados diversos carros baseados em
células de jatos de combate aposentados do serviço militar”, desvenda
Green.
O primeiro "carro-foguete",
o Spirit of America, pulverizou os recordes dos carros da década
anterior ao atingir 966 km/h. Curiosamente, esse carro foi mais rápido
que o avião em que era baseado, o caça F-86 Sabre, que dificilmente
superava (voando!) os 900 km/h. A partir desse carro, superar sua marca
só seria possível com motores a jato ainda mais potentes, derivados de
aviões mais modernos.
A caminho do novo recorde
Além de preparar o carro, a equipe Bloodhound também criou sua
própria pista. “Encontramos o melhor lugar do planeta para fazer uma
prova desse tipo”, conta Andy Green, se referindo ao lago seco Hakskeen
Pan, na África do Sul – os recordes anteriores, inclusive a marca de
Green, foram alcançados do deserto de sal em Bonneville, nos EUA.
Nesse espaço foi criado um traçado com 20 km de extensão e 2 km de
largura e também está sendo montado uma estrutura especial para medir o
recorde com precisão. “Esperamos concluir a prova em cerca de quatro
minutos”, prevê o homem mais rápido do mundo que em breve poderá ser
mais veloz ainda. A prova está marcada para 2015. Quem poderá batê-lo?
http://carros.ig.com.br/especiais/ig+entrevistou+o+homem+mais+rapido+do+mundo/6965.html