Segundo colegas de trabalho, José Wilker fazia o que bem entendia em um set de filmagens. Instintivo, ele precisava apenas de algumas recomendações para conseguir chegar ao resultado desejado. Foi isto que Marcos Jorge (“Estômago”) ouviu antes de trabalhar com o ator em “ O Duelo”, último filme estrelado por Wilker antes de morte, em abril de 2014. O diretor falou, em mesa redonda com jornalistas de São Paulo, que estava receoso em lidar com o artista. Mas o resultado que se vê no longa, cuja estreia está marcada para esta quinta-feira (19), é uma bela despedida do artista.
Inspirada no conto “Os Velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo-Curso”, de Jorge Amado’, a produção mostra como a chegada do comandante Vasco Moscoso de Aragão (Joaquim de Almeida), capitão de longo-curso, muda a rotina do vilarejo beira-mar Periperi.
Ali, os moradores o rodeiam a todo tempo para ouvir suas impressionantes relatos sobre terras e mulheres exóticas. Porém, o fiscal Chico Pacheco (José Wilker), até então o homem mais admirado do lugar, decide investigar o passado do comandante, procurando saber se o que ele não diz não passa de uma grande “história de pescador”.
Apesar de retratar a busca pela verdade, ela é apenas um pequeno detalhe da trama. Cheio de efeitos especiais, o filme é bonito esteticamente. Ele é quase atemporal, uma vez que a caracterização dos atores e das locações poderiam se encaixar em qualquer parte do tempo entre 1940 até 1980. A produção também tem várias cenas onde o real e a imaginação se misturam de forma delicada e suave. O bom resultado valeu a espera para o lançamento de “O Duelo”: foram três anos só na pós-produção.
Dono de um desempenho competente e uma habilidade para contar histórias como ninguém, o português Joaquim de Almeida foi escalado “por acidente”. Marcos Jorge não procurava ninguém muito conhecido para o papel de Vasco. Figura fácil em Hollywood, o ator estava no país para o Festival do Rio, em 2011, quando a mulher de Marcos Jorge viu uma foto dele. “Ele é perfeito para interpretar o comandante”, o cineasta ouviu. O diretor, então, pegou o primeiro avião para a Cidade Maravilhosa e fez o convite.
Muito masculino, as personagens femininas são muito discretas, quase não têm fala. Para conseguir fazê-las marcantes, mas com suavidade, Jorge escolheu Tainá Muller (“a habilidade dela de ser delicada e sensual me encantou”), Claudia Raia (“precisava de alguém com bastante carisma, que o espectador reconhecesse na primeira olhada”) e Patrícia Pillar. As duas primeiras interpretam três mulheres diferentes, cada uma.
Marcos Jorge também assina a adaptação do texto para o cinema. Ele conta que, para ele, só havia uma pessoa capaz de interpretar Chico Pacheco: José Wilker. Não foi à toa, então, que o personagem parece ter sido feito sob medida para o ator.
Vários elementos de personagens icônicos dele estão em sua interpretação do invejoso fiscal: um pouco de Giovanni Improtta, de “Senhora do Destino”, um tanto de Mundinho Falcão, de “Gabriela”, e muito do narrador que se mostrou na série “A Vida Como Ela É…”. “Ele está em sua plenitude”, comentou Marcos Jorge. “Esta é uma bonita homenagem a José Wilker”, completa Claudia Raia.
http://on.ig.com.br/imagem/2015-03-19/cheio-de-efeitos-especiais-o-duelo-e-uma-bonita-despedida-de-jose-wilker.html
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