Nanda Costa pode não fazer a melhor Playboy de todos os
tempos, mas que ela soube cacifar a venda da revista, isso ela soube.
Fotos em Cuba no estilo Claudia Ohana já é coisa esperta, melhor ainda
se anunciada antes. Platão definiu o homem como o “bípede sem penas”,
ora, em um tempo em que a mulher está sendo tomada, naturalmente, como
um bípede sem pelos, a ideia de uma Nanda Costa peludinha vem a calhar.
Ao menos para as gerações de agora, trata-se de novidade. Vai vender!
Mas Nanda não ficou só nisso. Ela “politizou” a
coisa. Inteligentemente jogou no twitter: “Não iria fazer bigodinho de
Hitler na terra de Fidel”. A declaração é ótima, pois coloca a política
ideológica no lugar dela: nas partes pudendas. Em que outro lugar
poderíamos colocar a direita e a esquerda?
Mas a imprensa acabou preferindo não falar em partes pudendas e, sim, em
“partes íntimas”. Partes íntimas na Playboy? O que é intimo em “revista
de mulher pelada”? Hitler e Fidel sempre gostaram de palanques. Hitler
adorava aplausos, Fidel adorava falar – chegou a fazer discursos de mais
de oito horas! Exposição máxima, o final absoluto do que é “íntimo”.
Tudo que é íntimo, privado, restrito, não existe mais: eis o lema do que
foi o comunismo e o nazismo. Daí a institucionalização da polícia
política, ou seja, de uma polícia preocupada em saber se alguém ainda
estaria fazendo coisas às escondidas, se alguém ainda ousaria usar do
pensamento como algo íntimo.
Não é a beleza da foto que nos faz gastar um bom dinheiro na Playboy da
Nanda Costa. A beleza da foto se tornou o chão básico. O “plus” é dado
pela curiosidade. Tanto é que a frase no twitter, tentando aguçar a
curiosidade, pode e deve ser lida como uma boa jogada de marketing. Ora,
mas isso ainda não responde nossa questão: afinal, quem de nós acha que
vai encontrar algo que nunca viu ao checar as partes pudendas de Nanda
Costa? Alguns já viram tanto isso que irão usar da brincadeira do
trocadilho: Nada consta! Então, como funciona essa tal de curiosidade?
A tática é
fácil, ela tem de funcionar como se alguém pudesse dizer o seguinte:
“está vendo como havia um segredo? Você esperava uma Nanda Costa
raspadinha e eis que temos uma Nanda Costa peluda rearranjada em forma
de decadência política. Não haverá, então, mais segredos, mais
novidades?” Ora, não é assim que pode surgir a chance de se voltar a
acreditar na verdade, ou seja, no que é verdade exatamente por estar
escondido?
* Paulo Ghiraldelli Jr., 55, filósofo, escritor, cartunista e professor da UFRRJ
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