Cinebiografias têm como principal requisito a escolha do
protagonista ideal: um ator que seja parecido fisicamente com o
biografado e saiba incorporar seus trejeitos e características, além de
talentoso o suficiente para não limitar a interpretação a uma mera
imitação.
"Somos Tão Jovens", cinebiografia do cantor
Renato Russo que estreia nesta sexta-feira (3), consegue passar por esse
primeiro obstáculo. Entre todas as qualidades e defeitos do filme de
Antonio Carlos da Fontoura, o que se sobressai é a atuação de Thiago
Mendonça, que se apropriou de forma impressionante dos maneirismos e da
voz marcante do cantor.
O desafio de Mendonça era grande, já que a decisão de não
utilizar playback durante as gravações significava que todas as canções
do longa seriam cantadas e tocadas ao vivo. Sem experiência como músico,
o ator treinou diariamente durante três meses no estúdio de Carlos
Trilha, em Brasília, que produziu álbuns de Renato Russo e é o
responsável pela direção musical de "Somos Tão Jovens".
O que era uma decisão arriscada se mostrou
crucial. Além de conferir mais autenticidade e energia ao filme, as
apresentações ao vivo também representam o momento em que Mendonça
cresce em cena, mostrando o lado mais forte e fascinante de um cantor
que, fora do palco, é temperamental, egocêntrico e por vezes imaturo.
Não que "Somos Tão Jovens" esteja disposto a questionar
demais seu personagem principal. A ideia, aqui, é fazer um filme feliz,
juvenil, que não entre a fundo em questões como fama, drogas e aids -
distanciando-se, assim, de cinebiografias como "Cazuza" ou mesmo das
internacionais "Jhonny e June", sobre Johnny Cash, e "Ray", que mostra a
trajetória de Ray Charles.
Se a parte musical é um acerto de "Somos Tão
Jovens", outros elementos vão pelo caminho oposto e incomodam pela
artificialidade. É o caso principalmente das cenas com André Pretorius
(Sérgio Dalcin), sul-africano que integrou a primeira banda de Renato
Russo e deixou o Brasil para servir carreira militar. Ainda que se trate
de um personagem real, há algo de fake na caracterização, no sotaque e
na atuação, fazendo com que todo o contexto pareça funcionar como
desculpa para a inserção de comentários políticos óbvios.
Também há certa artificialidade na forma como
as canções são inseridas na história, por vezes forçando conexões entre
um momento da trajetória do músico e um verso escrito por ele. Há uma
cena, por exemplo, em que Renato está entendiado em uma reunião de
jovens certinhos, diferentes dele. É a deixa do filme para falar em
"festa estranha com gente esquisita", um dos trechos mais conhecidos de
"Eduardo e Mônica".
É verdade que o filme pontua as paixões homossexuais do cantor - a principal, por Fávio Lemos, do Capital Inicial -, mas chama a atenção o fato de Aninha, que não existiu, ser mostrada na tela como melhor amiga, base de apoio e grande amor de Renato. Com isso, o filme parece querer seguir uma fórmula mais convencional e capaz de apelar a um público maior.
Há que se reconhecer, porém, que Aninha está no centro do momento mais emocionante de "Somos Tão Jovens", quando o cantor dedica a ela a canção "Ainda é Cedo". "Uma menina me ensinou quase tudo que eu sei", diz o primeiro verso. Não foi esta menina. Mas, como cinema, funciona.
http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/2013-05-02/em-somos-tao-jovens-thiago-mendonca-impressiona-como-renato-russo.html
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